MERGULHO BEM FUNDO
Gracita Alencar
Mas um dia que passa; mais um dia que passei ou vivi? não sei!.
Só sei que meus anos passaram, se foram e com eles a minha juventude; hoje sou uma mulher que já percorreu no mínimo a metade do caminho, que passou a vida inteira dentro de sonhos e fantasias. Sonhei muito, sonhei em ser feliz, em ser amada em continuar vivaendo atravez de meus filhos.
Hoje acordei só e não sei o que é viver. O que é viver?. Um dia alguem afirmou, que essas sucessões de dias que passam é vida. Sera?.
A flor é uma vida, efémera e frágil mas é uma vida; o vento, os pássaros, ate os dias e as noites são vida? e eu, também estou incluida nessa relação e consequentemente também sou vida?.
Mas sera que vida é só isso? não, isso não satisfaz.
Eu era jovem e já me fazia essa questão. E como todo jovem eu queria algo diferente..
Era dia de festa e la estava eu envolvida com os preparativos para ficar bonita. Eu tinha alma, sentimentos e uma vontade louca de sentir o que é vida; não só sentir os dias passarem, mas sentir alegria de viver, com uma razão, com um objetivo. Queria andar de mãos dadas com a esperança, amar o amor e sentir a felicidade me encher o coração de paz e vibrar com cada momento vivido.
Mas acho que eu só quiz viver, não "desejei", descobri isso muito tempo depois e como toda descoberta e assustadora, me assustei me encolhi de volta pro meu porto seguro de um limbo onde eu conseguia ludibriar a mim mesma..
E la voltava eu pro meu querer, era mais seguro.
Eu quero viver, mas o que é viver?.
Meu coração dói, chora baixinho; e a paz, dizem que só a morte a traz. Mas eu não quero morrer, só quero viver e ser feliz..
Meu coração canta triste, meu coração já não sabe sorrir; porque há tristeza em mim? não sei.
Talvez não seja tristeza e sim solidão; solidão de estar só, no meio de todos, participando com o mundo as voltas que ele da; fingindo felicidade, fingindo não estar só quando não tenho ninguém.
E eu sorrio, sorrio para não chorar, canto pra não gritar a dor insuportavel de estar só.
E foi assim que eu tropecei pela vida com os meus quereres.
Encontrei varias pessoas como eu, querendo apenas viver.
Eu não gosto de você. Porque? não sei, não gosto mas te quero, preciso de você. E o porque continua.
Talvez seja medo de sentir que não tenho alguem que realmente goste de mim; sera verdade? não, não é; eu gosto de você sim, gosto mas não te amo; gosto não sei ao certo a definição, talvez porque veja você um pouco como eu que também tem medo da solidão.
Você precisa de mim porque pra você eu dou tranquilidade, te inspiro confiança e ate mesmo um pouco de segurança que você procurou pela vida e acha que encontrou em mim.
É tudo isso. Sera que teremos coragem de continuar nos enganando, não um ao outro, mas a nos mesmos?.
É, fatalmente isso acontecera se nem eu nem você encontrarmos o amor. E nos uniremos, tentaremos ser felizes e fatalmente fracassaremos.
Eu e você, que não nos amamos, mas pelo medo de ficar só, ficaremos juntos e seremos dois decepcionados.
Mas isso não aconteceu; como todo querer precisa de uma boa doce de "desejo", mas uma vez voltei a ficar enfiada no meu limbo.
E houveram outros; outros sonhos desfeitos.
Já não existe mais o sonho. O sonho de um beijo quase roubado na penumbra de uma noite fria e o céu tão estrelado.
Já não tenho você, eu te perdi; o devaneio acabou tão depressa, como o momento que durou o nosso beijo.
Foi suave e doce aquele momento; nossos corações se deram às mãos e nossas mãos também se buscaram e se apertaram num elo de amor em que aquele momento que só ficou no sonho nos uniu.
Não mais nos olhamos de frente; mas a tua mão na minha transmitia toda uma linguagem de amor. Eu sentia a tua mensagem, e olhando para o céu estrelado, era como se visse os teus olhos brilhando de felicidade.
Eu estava em você, você estava em mim. Não falávamos, não nos olhávamos, não nos abraçávamos, mas sentíamos que havia unidade, que nossas almas participavam daquele momento, daquele enlevo que por acaso aconteceu em nossas vidas e que também por acaso se desfez tão depressa como aconteceu.
Hoje não te vejo, não te encontro, mas continuo a procurar alguem como você.
E hoje repassando tudo pela memoria, verifico que eu quase nunca falava o que sentia. Todos os meus sentimentos eram tão transparentes para mim que não era necessário a fala, ou talvez não era necessário a fala porque na verdade eu tinha medo de "desejar".
Eu disse tudo, eu falei tantas coisas e tu não me ouvistes; eu não queria te perder e te perdi.
Ah! se as pessoas pudessem entender essa linguagem muda e significativa que os olhos falam.
E eu te perdi; perdi porque não soube falar com palavras toda a mensagem muda e significativa que meus olhos te transmitiam.
Eu te perdi, porque fui covarde te dizendo adeus sem lutar por ti, por mim, por nos dois. E agora eu me pergunto, que faço eu? a única coisa que posso fazer é sentir saudade; saudade de ti, do teu carinho, do teu olhar do teu beijo.
Eu irei te lembrar sempre; mesmo que os anos passem, e a distancia se torne cada vez maior, eu estarei com a tua lembrança no meu coração.
E num piscar de olhos a vida passou, os anos passaram, e cá estou eu mergulhada nas minhas lembranças sem nada de concreto, de palpável.
A tarde esta calma, o céu esta de um azul infinitamente puro e eu estou envolvida nesse balancete de vida.
Os meus sonhos, os meus devaneios, eles chegam a mim com tanta intensidade que eu chego a ficar feliz.
É, eu vivi de sonhos, ilusões fantásticas; as vezes eu falava a mim mesma: sera que eu vou acordar um dia? talves já seja tarde; eu vou acordar e vou estar só, sem sonho, sem ilusão, sem nada.
Eu vou acordar, e não vou mais encontrar tardes calmas, noites serenas; e os meus sonhos e as ilusões mais lindas das minhas fantasias, serão amargas recordações de tudo aquilo que quiz e que ficaram somente nos sonhos loucos e ilusões perdidas.
Estarei só e a tristeza me envolvera e me fara chorar, me fara senti-la. E eu sentirei, não mais o céu , a briza, a tarde serena; eu sentirei a chuva, o frio e o amargo sabor de estar só.
E eu chorarei, chorarei por mim, por tudo que passei e que perdi, por ter sonhado demais, pela vida que não vivi, pela ironia da vida.
É verdade, tudo isso aconteceu, mas eu acordei.
Acordei com um gemido rouco, preso na minha garganta me fazendo chorar. Estou como um animal ferido, gemendo preso, cativo sem saber como me ajudar. Estou presa, por laços, por no por traços, que me sufocam e me apertam ate me fazer calar.
E o meu gemido rouco, fica louco, por não poder se soltar.
E agora o que eu faço. Mergulhei bem fundo pra dentro da minha vida e me encontrei frente a frente, sem armas, sem defesas ou enganos.
E aqui estou eu, nua, despida.
Me descobri impotente, mas também me descobri valente. Sou feliz algumas vezes, e nem sempre percebo, sou infeliz por muitas vezes e ai sim sempre me vejo; e sofro e choro e me magôo.
Mas eu também descobri, que fujo das chances de ser feliz, por medo, insegurança e ate mesmo por vingança, me punindo pela covardia, de não tentar de fingir.
E cá estou eu como reu e ao mesmo tempo juiz.
Sera que conseguirei me dar a chance de construir uma outra historia diferente para minha vida?
vou tentar.